quinta-feira, 15 de julho de 2010

Segurança Pública???

Nesta quinta feira, me assustei com a faltra de segurança. E olha que, para me asustar, a coisa tem que ser feia... Já fui asaltado em serviço, fiquei 10 minutos sob a mira de pistolas fazendo matéria nos tempos idos da Band. Além disso, no dia a dia da Record, acompanho de perto os principais casos de violência. De perto mesmo. Entro nas casas das vítimas, converso com familiares diante de seus filhos, pais e irmãos asassinados injustamente. Por vezes atéé difícil manter a imparcialidade jornalística, que sobrevive por ser, em verdade, uma segunda natureza.
Contudo, foram dados que me assustaram. Isso mesmo, números. Tive a grande oportunidade de entrevistar o coordenador do Observatório da Segurança Pública, professor Costa Gomes. Ele me introduziu a um outro nível de realidade em termos de violência. Professor universtário, militar da reserva, Costa Gomes tem uma arma em casa por motivos funcionais. Garante que nunca saiu com ela. Diz mesmo ser contra a proliferação das armas que vem se registrando no Brasil desde que, em 2005, a população, via referendo, disse não ao desarmamento. No país, a compra de revólveres e pistolas por civis subiu cerca de 80%. Na Bahia, esse número triplicou. Passou de 1080 para mais de 3000. Mas ainda não foi isso que me assustou, mas sim o que está por trás dessa corrida pelas armas. De acordo com Costa Gomes, a escalada da violência é a grande responsável. Usando parâmetros nacionais, o professor revela que o número de presos no nosso estado está muito abaixo do registrado no restante do país. Enquanto a média nacional seria de algo em torno de 400 presos por cada 100 mil habitantes, a Bahia teria apenas 100. Ou seja, outros 300 estariam do lado de fora dos muros da prisão. Em Português muito simples:

De cada 4 bandidos na Bahia, três estão em liberdade!!!

Costa Gomes vai além. Revela que, de 223 mil crimes cometidos no Estado, apenas 1,3% geram a prisão dos responsáveis. Quando considerada a subnotificação de cerca de 70% - os crimes que acontecem mas não são registrados nas delegacias e, portanto, é como se não existesem oficialmente - o dado fica ainda mais assutador:

São 700 mil crimes cometidos e apenas cerca de 2 mil bandidos presos. Algo como 0,3% NADA.

Para o profesor, a escalada da violência não guarda, como se supõe com uma análise superficial (ou seria viciada?), relação direta com o número de armas. A ONU concorda com ele: entre os seis países com as populações mais armadas do mundo, estão Brasil e Estados Unidos. EUA, na liderança do ranking, com impressionantes 270 milhões de armas. Brasil em última posição com 15 milhões. Alívio? Bem... Quando o assunto é violência, as coisas mudam de figura. O Brasil, menos armado, é o mais violento dos 6. Os Estados Unidos, onde, pela conta, até as crianças devem andar armadas, ficam na última colocação.
Em tempos eleitorais, Costa Gomes prefere não fazer juízo de valor quanto a responsabilidades políticas pela escalada da violência na Bahia, mas ressalta que uma mudança só virá quando a gestão da seguraça pública for alterada. Como exemplo, ele revela a disparidade existente entre o efetivo policial nos diferentes bairros da capital baiana:

Na Barra e na Pituba, para cada 200 moradores, tem um policial. No Subúrbio, a relação é de um PM para cada 2500 (isso mesmo, dois mil e quinhentos) moradores.

É ou não é para ficar asustado?

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Entre Amigos

Há entre amigos um algo de muito peculiar. Um que de unicidade, que não vai nas outras coisas. Amigos entendem o indizível. Criticam o sagrado e cospem nas suas próprias escrituras. Amigos reescrevem a vida. Eu e alguns amigos estamos com um projeto para espocar dentro em breve. A diversão, ao menos para nós, será garantida. Espero que para todos que nos acompanham. Vai, nesse texto, uma idéia embrionária do que deve ser, animicamente, a atmosfera do novo espaço que desenharemos na blogosfera dentro em breve. Muito breve.

O texto, que aqui segue, é um mini-conto, uma espécie de tira-gosto do que está por vir.

Entre Amigos

MicrosYstem nas mãos, maquaigem mal delineada, feita pela própria irmã, Risoleta, outrora mestre-escola de certa reputação nas hostes do direito, ensaia, em pleno instituto jurídico, uma dança quase sabática. Com uma lata na cabeça, ela sobe numa mesa, na torre de marfim, onde, tempos idos, ensinou, e, girando como um pião, se vê como a madre superiora de sua divindade pagã: Madonna. Quem diria: justo ela, outrora socialista, anti-americanista, anti-quase tudo que não tivesse um que de vermelho, de Fidel. Hoje, tomada por uma alegre sandice, cantarola, num tosco inglês, em falsete: “Can of Water in the head, there goes Maria, there goes Maria..... Up Rio and no tired, for the hand leva a child, there goes Maria”. A melodia e a letra, tiradas de uma música popular brasileira, revelariam apenas a sua confusão mental, mas evocam, entre poucas convivas, uma nostalgia, uma comicidade que só mesmo elas compreenderiam. Algo de quase atávico. Ante uma platéia perplexa de alunos e professores, apenas elas, as três amigas, únicas que não ensinam nem aprendem no instituto, sorriem. Gritam em coro: - “CTRL ALT DEL. Macaco!” - A sentença, uma espécie de código cifrado, comum a elas, esdrúxulo a qualquer outro, iguala esta feminina versão do Quixote ao primata inicial, e é decisiva para fazer do riso gargalhada para as três; ou melhor, as quatro. A Quixotesa sorri ainda mais, desce da mesinha e abraça as amigas. Esquálida, abre um sorriso que lembra a lucidez de outrora, dos tempos pensantes. Mas agora não pensa ou pena. Apenas sorri e congrassa. Há uma confraria festiva, um rito fechado naquelas almas, ainda que aberto aos olhos da platéia incrédula. As quatro, juntas, seguem, com aquela alegria genuína que só os bêbados, quando realmente embriagados, conseguem exibir. E não tomaram nem um trago. A platéia assiste, estupefata. Não emitem um ruído. Não entendem tudo, mas respeitam, pois compreendem a parte essencial do que se passa ali. Entre tropeços e abraços, as quatro seguem. Apenas se amam e se entendem.

Gabriel Pinheiro

terça-feira, 14 de abril de 2009

Tem dias

Tem dias em que tudo é doce
Como se fosse um sorriso;
Que a vida lança olhares,
provoca-nos reflexão.

Tem dias de sim
Tem dias de não

Tem dias em que o mundo ferve,
Como a verve da paixão;
Que os olhares são cegos,
arquipélagos sem fim.

Tem dias de início
Tem dias de fim

Tem dias em que o marasmo,
com seu pasmo adormecido,
deixa o humano dolente,
parvo, como vencido.

Tem dias ganhos
Tem dias perdidos

Não sei bem que dia é hoje.
Quem saberá afinal?
Creio perder vitórias,
lançar ao vento as glórias.

Tem dias lindos
Tem dia escória.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A bicicleta

- Não filhinho, papai não tem dinheiro – dizia ele entre lágrimas.
- Conserta minha bicicleta papai – dizia ele mesmo, fazendo as vezes do filho, chorando agora com mais sentimento.
- Me perdoa, meu filho, me perdoa – as mãos no rosto, em concha, tampavam destarte a vergonha. Vergonha da pobreza, de não ter podido atender aquele último desejo. Durante todo este diálogo interno, que ele externava em voz alta, como a querer que aquele grito sussurrado ao mundo, libertasse a sua alma de um pesar do qual só ele pode livra-se, o pai fitava o caixão do menino de 7 anos, morto esta semana no subúrbio de Salvador pela dengue hemorrágica.

Antônio Dantas, vigilante. Nunca pode pagar um plano de saúde para ele ou sua família. Uma mulher e três filhos; agora dois. Um, irremediavelmente ceifado. Passou mal numa quinta. Febre, dor de cabeça. A família medicou a criança. Usaram dipirona. Mesmo sem plano de saúde, eles têm televisão e, entre uma bobagem ou outra, assistem a um jornal, onde entre outras e outras bobagens, alguma notícia se salva. Sabem evitar o ácido acetil salicílico. Sexta feira, o menino passa melhor. Weslei era o nome dele. Fica de cama, vendo televisão. Entre um e outro desenho animado, um jornal - e a dengue de volta. A mãe, Marisvânia, assiste com ele. Desempregada, toma conta do filho. Sábado, ele piora muito. Vomita e começa a convulsionar. A mãe leva a criança ao posto de saúde. De lá, ele é encaminhado para o Hospital João Batista Caribé, o maior do subúrbio, distrito sanitário que tem também o maior índice de infestação de Dengue de Salvador.

- Ele me falou, doutor – diz ela, voltando-se para mim - o médico disse que era só uma infecção de estômago. Mas a outra médica já tinha me dito que podia ser dengue. As plaquetas dele estavam muito baixas (sic) – ressalta, numa prova de que acompanha com real atenção as notícias sobre a dengue, e que chama de doutor até mesmo um simples repórter como eu, não porque traje paletó, ou não apenas por isso, mas também porque os que têm acesso ao mundo que lhes é vetado (a ela, a seu marido e a seus filhos e seus vizinhos) são para ela e para todos os demais excluídos do subúrbio, doutores.

Foram cerca de 24 horas de agonia.

- Porque não transferiram meu filho de hospital, se eles não podiam cuidar? Por que ele não foi para o Couto Maia? – o choro abafa a fala da mãe, que já tem seu corpo abafado, fisicamente, por colegas repórteres, cuja sanha por conseguir a notícia, ou mesmo o depoimento justo no momento de maior dor como uma espécie de troféu ao mau jornalismo que tem sua audiência regada por choro e sangue, não permite que se sensibilizem com a situação. Chamam a isso de distanciamento jornalístico. Eu, que chegara adiantado e já colhera minhas entrevistas previamente, quando os pais estavam mais calmos, acompanhava de longe. Sentia, na dor dos pais, e em tudo naquele evento, uma vergonha muito grande. Vergonha de poder o que eles não podem, vergonha de precisar ter vergonha disso e também, como se não bastasse, vergonha pelos meus colegas. Eu, para entrevistar os pais, busquei, inclusive, chamá-los para fora da casa onde o corpo era velado, de modo que ficassem longe do filho, para que a lembrança, ao menos naquela hora, em que detalham a história, refazem angustiosos caminhos psíquicos, que ali a memória lhes fosse menos pungente, dolorosa. Procedimento inverso ao adotado, lamentavelmente, por alguns colegas, que, para minha vergonha profissional, ainda diziam, na vista dos parentes, aos seus cinegrafistas, que pegassem o menino de fundo na imagem. Os pais em primeiro plano. O corpinho, no caixão branco, de madeira simples, em segundo, cmo paisagem, compondo a cena. O que para eles é cenário, para mim é uma criança, um menino qoe ainda parecia vivo. Acariciado pelos pais o tempo inteiro, tinha os olhinhos abertos e parecia olhar para mim. Parecia, de alguma forma, culpar-me pela sua morte, apontar a mim e aos meus colegas como responsáveis por maximizar a dor dos seus pais. Parecia ter razão.

- Filhinho, perdoa papai, filhinho.
- Eu brinco com ela quebrada mesmo, papai, até o senhor poder consertar.
- Ô meu Deus, perdoa papai filhinho. Papai tinha que comprar comida.

Preciso pôr meus óculos escuros... Preciso esconder o choro... O que meus colegas vão pensar? Que tipo de jornalista sou eu? Onde o distanciamento? Onde a objetividade? Ponho a mão no bolso do paletó. Antes de retirar, lembro que os meus óculos, os que tinha ali aquela hora, não convinha usar. Ray Ban. Caros. Chamativos. Para que agredir ainda mais aquela família? Às favas com os meus colegas. Noto que dois, inclusive, conversam baixinho. Riem e apontam para mim. Uma terceira me mira como se meu choro fosse hipocrisia de político. Sinto uma certa repulsa por eles. Mas passa rápido. Não há espaço nas minhas emoções para nada além da dor que sinto por todo o quadro. Os demais colegas vão ao cemitério esperar o sepultamento. Eu fico um pouco mais com a família.

Súbito, o pai vai ao chão. Desmaia. Meu cinegrafista faz a imagem. A família carrega-o e leva-o ao posto de saúde. Pedem que não acompanhemos. Até por obrigação, imposta pelo direito da preservação do uso de imagem, obedeço. Fico feliz que meus colegas já tenham partido. Valendo-se da ignorância dos pobres, eles nunca atendem a esse tipo de pedido quando parte de um desvalido. Guardam sua reserva legal para ilustrados que conhecem a lei. Eles, ditos e diplomados jornalistas, a conhecem (alguns). Todos deveríamos fazê-lo. Reza a constituição da república que a ninguém é facultado o direito de descumprir a lei alegando ignorá-la. Todos somos obrigados a conhecer a lei. Esse é o princípio de qualquer estado de direito. Este mesmo estado onde todos deveriam ter acesso à saúde e a condições dignas de vida.

Antônio segue com a família. É medicado com ácido acetil salicílico. Há risco de infarto. Recebe também benzodiazepínicos. Precisa acalmar-se. Há risco de acidente vascular cerebral.

Sigo para o cemitério. Deixo a família ter o mínimo de privacidade. Passados 20 minutos, eles chegam para o enterro. O corpo, no caixãozinho branco, vem carregado pelos vizinhos, numa procissão pelas ruas, como no interior. Não há carros fúnebres. Não há cerimônia. Meu coração aperta ainda mais com a culpa de estar inserto numa sociedade que não me faculta oportunidades reais de mudar esta realidade, mas me obriga a contemplá-la.. O pai vem atrás de todos, carregado. Ao chegar ao cemitério, que fica no cimo de um monte, não consegue ir, de pronto, até o local onde o corpinho será enterrado. Toma água. Desmaia. Acorda. Antes, porém, que o filhinho repouse no seu jazigo perpétuo, ele chega ao caixão - o pai. Balbucia, entorpecido pela alta dosagem de diazepan, alguns sons incompreensíveis entre choros. Colegas atrasados, de jornal impresso, perguntam-se uns aos outros – a mim inclusive – se dá para extrair algum depoimento dali. Lastimo e me volto novamente para o pai. Uma frase, um fragmento, eu consigo captar; mas não revelo a eles.

- A bicicleta, filhinho, se papai pudesse... ô meu Deus, ô meu Deus.

“É gente humilde, que vontade de chorar”
Chico Buarque e Vinícius de Moraes

terça-feira, 31 de março de 2009

Saúde. Dinheiro. Cheers! Quero minha paz de volta


Precisamos brindar à saúde. Não o fazemos, eu pelo menos não. A não ser na hora errada, quando estou doente, como agora. É incrível a incapacidade que temos de perceber o que é bom antes que se acabe. Por vezes, parece que chegamos a acelerar o ocaso da satisfação para que, com a indisposição, venha junto uma vontade de partir para outra, melhorar, voltar ao estado anterior, que abandonamos voluntarimanete.

Olho os Estados Unidos. Um trilhão de dólares. Dinheirama incalculável. Tudo para emprestar a aventureiros que, subsidiados, vão comprar títulos podres de bancos para, no futuro, se tudo der certo, receberem algum lucro. Quem sabe eles voltem ao que eram. Houve um tempo em que dinheiro era dinheiro, em que a economia real superava o mundo de Alice das finanças. Foi uma mudança brusca. No começo era o escambo, a troca de produtos. O dinheiro, quando surgiu, era argila, na babilônia, mas dos chineses pra cá, lá por volta de 1000 antes de Cristo, ele passou a ter um valor real. As moedas eram de metal e tinham o seu valor nele calculado. Chega o século XIX e com ele o chamado padrão ouro. Havia que se indexar a moeda a algo real, de valor mensurável. A partir de 1944, com o Bretton-Woods, essa correspondência era de U$ 35,00 para um onça trey, cerca de 31 gramas de ouro. Tudo muito bom, tudo muito bem, até que um renomado burro, Richard Nixon, em 1971, decide romper com o padrão ouro, que já estava solidificado internacionalmente desde o pós-guerra. Surge a moeda fiduciária, sem valor real. Economia baseda, quem diria, na confiança. E como eles confiaram. (justo em Nixon, aquele mesmo do Watergate)
Muito crédito, poucos juros, eo país foi crescendo, crescendo ... Até que a bolha explodiu. Agora, a economia financeira precisa voltar ao que era. Tornar-se economia real. Aquela que os chineses instituiram há coisa de 3000 anos. E olha os chineses onde estão.
Esses dias ouvi, aqui no Brasil, falar-se do FMI como um herói, um cavaleiro andante que poderia reestabelecer a saúde global...
Lamentável. Sob dois aspectos, pelo menos. Primeiro: hoje, o FMI, com seu caixa de U$ 250 bilhões, não dá nem pro cheiro numa economia arrasada na qual, entre pacotes e mais pacotes, só os países ricos já injetaram cerca de U$ 12 trilhões para tentar minorar um prejuízo que, estipula-se, passe dos U$ 50 trilhões. Como cavaleiro andante, mal chega a um Dom Quixote em andrajos. Segundo: não queríamo stodos nos livrar do FMI? A verdade é que conhecimento acumulado é necessário. E o FMI tem conhecimento acumulado em gerir crises dos outros. Não tem tamanho para gerir a crise que aí está, mas tem Know-How.
E eu aqui, com essa dor no corpo, esses calafrios, falando de economia...
Mas é revltante ver o que os Estados Unidos fizeram com eles e com o resto do mundo de quebra. É reconfortante ver que os efeitos sobre o Brasil não são tão intensos, pelo menos ainda não. Mas também não podemos pensar que é uma marolinha, como alguns por aqui tem chamado o tsunami financeiro que está devastando o planeta.

Quero minha saúde de volta. Quero dinheiro, diversão e arte, como apregoavam os velhos e, naqueles tempos, bons Titãs. Quando estamos doentes vamos ao médico. É preciso que um especialista intervenha. Para que as finanças do mundo recuperem sua sanidade, precisaremos de especialistas, estejam eles no FMI ou no encontro do G-20.

É preciso saúde financeira. O capitalismo é uma porcaria, mas sem ele, as coisas não funcionam. Lula promete um milhão de casas construídas. Os pobres pagariam R$ 50,00 por mês e, ainda assim, só quando já estivessem sob o novo teto. Muito bem. Excelente projeto. Gera empregos, pois a construção civil o faz como poucas indústrias; dá oportunidades e combate a crise por aqui. É preciso, no entanto, que do discurso se vá à prática. Creio que a intenção, de fato é essa, mas o caminho que separa boas intenções de realizações louváveis é longo.
Hoje, no Brasil, os pobres são mais saudáveis. Têm mais dentes, comem mais vezes por dia. Saíram da miséria, em números reais do IBGE, "como nunca antes na história desse país". É verdade.

Todos querem e precisam de dinheiro, inclusive no senado, onde a farra segue. Descobriu-se que o senador Mão Santa contratou um diretor para a casa, cujo único serviço era caçar, no Piauí, um pistoleiro que atentaria contra a vida do parlamentar de discursos engraçados. Não vai na casa da república há dois anos, pelo menos. Um funcionário, que ganha seus R$ 17 mil líquidos comparou o senado brasileiro ao céu, não pelos seus santos, mas pelas suas benesses, sendo que lá a chegada independe da morte física. A morte moral, aí já são outros quinhentos. Mas quem falou em 500? No senado tudo se conta aos milhares. 10 mil funcionários para servir a 81 nababos. Salários também nesta casa. Concurso que é bom, nem edital sai. Quem não tem pistolão também quer bons salários.
Saúde financeira. Sarney disse que vai colocar a casa nos trilhos. Uma consultoria vai fazer um diagnóstico e propor soluções. Saúde institucional.

E volando à saúde financeira, a Daslu vinha recupeando a dela. Depois do vexame de 2005, quando Eliana Tranchesi foi desmascarada, a loja decaiu. ano passado, se reerguia. O faturamento, na casa das centenas de milhões, os visitantes, incluiam o chic Valentino. Mas Tranchesi foi presa este ano. Dormiu no presídio. Uma noite apenas, mas dormiu. Foi atendida por médicos de alta qualidade, lá dentro. Eles vieram de fora, éclaro. Mas a mulher tem câncer, pelo amor de Deus. Quer a saúde de volta.

Preciso deitar, tomar muita água e uns remedinhos. Fiz sorologia para Dengue. Não é. Uma virose, dizem os médicos que me atenderam voando. Mas não sei seeles têm tanta certeza do diagnóstico que me deram, pois afirmaram que, caso minhas dores não passem eu retorne depois de amanhã. Enfim... Vi dois médicos diferentes. Não porque haja um cuidado imenso por parte do hospital, mas sim por conta da demora para receber o resultado dos exames que não me diriam nada, apenas que eu tenho uma virose. Qual? "Não sei", me responde a médica, que tinha acabado de entrar no turno dela e me repetia as perguntas que deveriam estar no prontuário à frente dela, que ela não lia, provavelmente.

Sou repórter, ontém estive no Hospital Geral Roberto Santos como jornalista e vi o atendimento prestado lá aos pacientes, com ou sem Dengue e viroses. Salas de espera cheias. Espera para fazer exames. Espera para recebê-los. Hoje, no hospital particular, me senti na mesma situação. Dá vontade de virar para o plano de saúde e vociferar: quero meu dinheiro de volta.

Em São Paulo, um sisteminha criado para protegero consumidor devolve parte da saúde mental deles. é uma espécie de cadastro onde constam telefones de clientes a serem repassados para operadoras de telemarketing. O motivo? PROIBIR que elas liguem para esses números. Acabo de receber, emnquanto escrevia aqui, mais uma ligação da GVT, a oitava. A sétima foi ontem. Quero, como os paulistas, a minha paz de volta. Quem diria. Um baiano invejando a paz dos paulistas...

Agora deixa eu deitar. Quero minha saúde de volta. E tomara que a GVT não me ligue enquanto eu estiver dormindo...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Psicopatas - "os bruxos pedem muito dinheiro para fazer a bebida com os corpos dos albinos".


Existem 60 milhões de psicopatas no mundo. quase dois milhões estão no Brasil. Um por cento do nosso mundo é composto por mentirosos, manipuladores, pessoas sem sentimentos morais como remorso e gratidão e capazes de adotar comportamentos perversos com qualquer um apenas para tornar as coisas mais fáceis para elas. A descrição se encaixa a alguém que você conhece? Sim? Ele pode ser um psicopata. No meu condomínio há 90 apartamentos. Um quarto em cada. Cerca de duas pessoas por habitação. São 180 indivíduos. Muitos têm empregados domésticos. Somando-se a esses os funcionários do edifício, devemos chegar em algo na casa dos 250 humanos. Pelo menos dois psicopatas, em termos estatísticos. Viver é perigoso, já dizia Riobaldo em Grande Sertão Veredas.
Estes dias assisti ao Fearless Vampire Killers (Destemidos matadores de vampiros), de Polanski. Quem traduziu o título, que em português aqui no Brasil é A Dança Dos Vampiros, sem dúvida deve ser um psicopata. Não consegui aproveitar o filme, no entanto, por causa de outro louco. Charles Manson. Aluguei o filme por causa da recente fotografia dele. Entre as vítimas da sua loucura, a protagonista do filme, Sharon Tate. Mulher de Polanski, ela foi morta a facadas pela turma do Helter Skelter, cuja única utilidade foi a de ter desmoralizado o movimento hippie, ao qual Manson e seus adeptos tinham a pretensão de pertencer. Com os assassinatos que comenteu pretendia acelerar o juízo final. Sharon Tate, quando morta a facadas, estava com oito meses de gravidez.
E por falar em filhotes, para a alegria dos empresários chienses, russos e noruegueses do ramo de peles, começou no Canadá a temporada de caça aos bebês-foca. É uma sangria de primavera. Os Hakapiks, bastões de madeira com ponta de ferro e gancho acoplado, criados especialmente para esmagasr o crânio, puxar os animais e arrancar suas peles, vão dizimar cerca de 338 200 filhotes em semanas. O Governo autoriza a matança sob os argumentos de que com ela controla-se a população das focas e ajuda-se a manter a existências das isoladas comunidades de caçadores. Matam-se as focas para que os loucos possam viver. Tudo muito humanitário, garante a ministra da pesca canadense Gail Shea, que conforta nossas almas ao afirmar: "é proibido tirar a pele do animal ainda vivo".
Enquanto isso, no senado da república, o suplente de Clodovil assume. Não o homossexualismo, que fique claro, mas a cadeira do falecido parlamentar. Linha dura (frise-se, mais uma vez, que não vai aqui qualquer duplo sentido), o homem que veio atrás de Clodovil é coronel da reserva. Acha que já matou cinco ou seis, não tem certeza. E avisa: quer andar armado no congresso. São 513 deputados. 81 senadores. Quase 600 humanos. Estatisticamente, seriam 6 psicopatas. Mas lembremos as características definidoras da classe (não os parlamentares - ou pelo menos não todos - mas os psicopatas), traçadas e aceitas universalmente desde os anos 90 pelo eminente psiquiatra, Dr Robert Hare. São elas as seguintes: ausência de sentimentos morais; comportamentos perversos que, na maioria dos casos, têm por finalidade apenas tornar as coisas mais fáceis para eles; metir sistematicamente e apresentar grande capacidade de manipulação. "Se flagrado fazendo algo errado, por exemplo, (o psicopata) tenta convencer todo mundo de que está sendo mal interpretado", afirma Hare. Diante diso, talvez seja o caso, pelo menos no que tange ao parlamento, de ampliar a margem estatística.
Para fechar, uma citação da secretária-geral da Fundação de Albinos da Tanzânia (sim, esta entidade realmente existe), explicando uma das razões pelas quais tantos dos sem-melanina são assassinados naquela república democrática do oriente africano: "os bruxos pedem muito dinheiro para fazer a bebida com os corpos dos albinos".

segunda-feira, 23 de março de 2009

Kant e a causa primária do humano

Folheava, esses dias, a Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant - obra suprema de filosofia -, quando me deparei com o seu fascinante conceito de causa primária. Muitos - eu mesmo já o fiz e ainda o faço por vezes - atribuem à idéia o poder de provar a existência de Deus. Diz Kant que a causa primária não pode ser predicada. Ela apenas é. Se ao verbo seguir-se uma predicação, há erro filosófico, vez que a causa primeira não pode ser descrita mediante atributos, que são criaturas, causados. Os atributos da causa primária não seriam sequer apreensíveis. Não quero, no entanto, usar aqui o conceito para falar de Deus e sim dos homens. Não do macro, mas do micro-cosmo psíquico. Há uma causa primária em tudo que fazemos. Uma instância supra-cognitiva acima das nossas decisões. Um motor que leva a elas. Os grandes homens, me parece, são os que conseguem sintonizar com a sua causa primária, sua força motriz. Os religiosos pensam de forma semelhante no que tange a Deus? Talvez. Mas há uma razão para que eu, pelo menos, não possa, na linha argumentativa que ora adoto, seguir o mesmo traçado. O Deus dos religiosos, sua causa primária é, necessariamente imutável, absoluto, onipresente, onisciente, onipotente. Por mais absolutos e grandiosos que sejam tais atributos, é isso, e somente isso, que eles continuam sendo: atributos.
Há, portanto, em termos de pensamento Kantiano, um equívoco nessa concepção divina. Os que pensam nesse Deus imutável o predicam como tal. Dão a ele qualidades, ainda que em grau supremo, caracteristicamente humanas - demasiado humanas.
Por isso, aqui, prefiro falar da causa primária que vai conosco. A que é nossa. Não a podemos predicar. Ela tem uma espécie de ascendência sobre nós. Seria o que muitos chamam de alma, instinto, potência? Um pouco de tudo isso? Não. É impredicável também. É o ser em si, a sua natureza íntima, verdadeiramente íntima, insondável, inclassificável.
Em nós, seres humanos, esta causa primária é mutável, ou, pelo menos, a percepção que temos dela se transforma. Por iso é tão difícil mudar, mas não impossível. Talvez o que não mude seja este núcleo duro, esta estrutura interna que confere vitalidade às ações humanas, que faz deste composto de carne, nervos, ossos e tantas outras coisas, um homem propriamente dito.
É glorioso ser humano. A questão é que poucos somos.
Há momentos na vida em que o ser humano se transforma. Ninguém o sabe, apenas ele mesmo, que se conhece em secreto. Sentir-se outro, não dizer que se sente, mas de fato sentir-se outro, é uma das mais compensadoras experiências da vida. Uma das mais árduas também. A natureza humana é conservadora. Os hisdus foram sábios ao criar a tricotomia divina, na qual a entidade suprerma reúne as facetas da criação, da conservação e da destruição. Se esta descrição cabe a algum Deus, não o sei. Não sou um filósofo abalisado de religião. No entanto, a analogia nos serve perfeitamente, enquanto humanos, para que entendamos um pouco melhor a que poderia assemelhar-se esse motor interno que, em nós, produz decisões, transformações, mudanças de rumo, ou permanência no mesmo trilho. É do homem o querer conservar-se. É também do homem o destruir e o criar. Juntos, estes dois últimos fatores resultam na transformação. Ao menos numa mudança cognitiva. Se de fato nos tornamos outro, é algo metafísico demais para que eu tente devendar. Mas nos sentimos outro. Não em relação a nossa alma, talvez, posto que não a conhecemos, mas diante de nossa manifestação palpável, nossa expressão errante no mundo.
Sentir-se outro é algo custoso. Exige essa luta ferrenha contra o mais básico instinto de preservação. Mas é a boa batalha. O resultado, invevitável, é sempre a vitória. Se nos movemos, caminhamos. Creio que nós, como o universo, nos expandimos o tempo inteiro. Caminhar, portanto, é algo que só se faz para a frente. Ainda que aparentemente em erro, se nos mexermos, sacudirmos sempre a poeira, fizermos o exercício perene de não nos contentarmos com nada menos do que mais, crecemos. Não tem para onde ser diferente.
Ser humano, verdadeiramente humano, é uma espécie de religião, etimologicamente falando. O termo religião deriva do latim Religare, significando o ato de se reconectar a algo. Só é verdadeiramente humano quem está, de algum modo, conectado com a causa primária que vive em si. Não importa se predomine na sua manifestação egóica os caracteres da conservação, da destruição ou da criação. Mas que o predominante, o alpha dog de cada um, guarde sintonia com seu horizonte de expectativas, seus desejos, suas ambições. Quem sintoniza com esse núcleo pessoal realiza - e bem - todas as funções a que se propõe.

Termino este raciocínio com duas citações que, embora aparentemente contraditórias, de alguma maneira, ao menos no meu pensar, quiçá insano, se complementam. A elas, portanto:

"A fé pode ser definida em resumo como uma crença ilógica na existência do improvável".
Henry Louis Mencken

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim como em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Fernando Pessoa, como Ricardo Reis.

Vai aqui a minha modesta leitura: para quem é tudo de si em cada coisa, o improvável, ainda que ilógico aos nossos olhos, torna-se real e tangível. É tênue a linha que nos separa do nada. Mas com muito esforço conseguimos ultrapassá-la e, enfim, nos tornarmos humanos.
A isto, subscrevo e dou fé.